A pequena indústria de Reginald Noel é a única produtora de biodieseldo Haiti. Mas o país quer aumentar esse número em um futuro próximo. Segundo oempresário, o plano é tornar a mistura de biocombustíveis aos combustíveisfósseis obrigatória no prazo de cinco anos. Além das questões ambientais, amedida visa aumentar a segurança energética local e economizar divisas.Atualmente, os haitianos importam cerca de 43 milhões de litros de diesel porano, principalmente da Venezuela. A maior parte desse combustível (70%) é utilizadapara gerar energia elétrica.
Também de acordo com Noel, o Haiti possui 600 mil hectares de terrasdisponíveis para o cultivo de matéria-prima para bioenergia. A ideia dosprojetos que vêm sendo formulados para impulsionar os biocombustíveis no País écombinar a produção de óleo com a de farelo para alimentação de aves, peixes esuínos.
O empresário haitiano está em Brasília desde segunda-feira (18),participando da Semana de Bioenergia, ao lado de cerca de 70 técnicos dediversos países. O evento é promovido pela Global Bioenergy Partnership (GBEP),o Ministério das Relações Exteriores (MRE), o Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Embrapa Agroenergia, com o apoio daOrganização dos Estados Americanos (OEA), do Departamento de Estado dos EstadosUnidos e da empresa Raizen. Ontem (21), o grupo conheceu a unidade deAnápolis-GO da Granol, uma das maiores indústrias brasileiras de biodiesel. Naopinião de Noel, que está em sua segunda visita ao Brasil, os programas defomento aos biocombustíveis do País são modelos de sucesso que podem ser adaptadospara outras regiões.
Até 2004, não existia fabricação de biodiesel no Brasil. Com aimplantação do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), o Paíspassou a ser o segundo maior produtor mundial, tendo colocado no mercado 2.717m³ do biocombustível em 2012. De acordo com o coordenador da ComissãoInterministerial do programa, Rodrigo Rodrigues, reduzir as emissões decarbono, as importações de diesel e as desigualdades regionais, com a geraçãode renda no campo são as principais diretrizes da iniciativa. Os númerosapresentados por ele na Semana de Bioenergia mostraram que quase 104 milfamílias de agricultores forneceram matéria-prima para as indústrias debiodiesel no ano passado – 25% na região Nordeste. Nos leilões para aquisiçãodo biocombustível realizados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural eBiocombustíveis (ANP), 92% das empresas vencedoras compram pelo menos 15% dematéria-prima de agricultores familiares.
FAO
“A política do Brasil é a melhor do mundo para promover a inserção daagricultura familiar”, diz o coordenador de bioenergia da Organização dasNações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Olivier Dubois. Ele contaque a FAO tem a preocupação de que os agricultores continuem a produziralimentos, mesmo fornecendo matérias-primas para os biocombustíveis. Para ele,com bons sistemas de gerenciamento, é possível atender aos dois mercados. Umaplanta alimentar, por exemplo, pode gerar alimentos e biocombustíveis. É o casoda cana-de-açúcar e da soja. Outra opção são os consórcios de diferentesculturas em uma mesma área. O risco, na opinião Dubois, ocorre quando oagricultor destina todo o seu lote para uma única cultura.
O coordenador de bioenergia da FAO afirma que, para a instituição,análises globais não funcionam em bioenergia. “A base do nosso trabalho é arealidade de cada país”, explica. No Brasil, o analista André Novo, da EmbrapaPecuária Sudeste, baseou-se no estado de São Paulo para estudar o impacto daexpansão canavieira sobre a produção de leite, em seu doutorado concluído noano passado. Os resultados, apresentados ao público da Semana de Bionergia,indicam que o recuo da pecuária leiteira se deu mais em função dos problemas dopróprio setor do que da demanda de matéria-prima para o etanol.
De 1990 e 2007, a produção desse biocombustível no estado de São Paulocresceu 117%, enquanto a de leite caiu 17%. Mas nenhum dos produtores ouvidospelo analista da Embrapa apontou a expansão da cana-de-açúcar como responsávelpelo abandono ou redução da atividade. As principais razões por eles apontadassão a necessidade de mão-de-obra intensiva, as leis trabalhistas e os baixospreços pagos pelo produto.
Em vez de competir com a produção de leite, a cana-de-açúcar pode seruma alternativa de diversificação da agricultura familiar, dando suporte àcriação intensiva dos animais. André Novo conclui que a percepção de risco dapecuária leiteira e os fatores relacionados à organização do trabalho têm maispeso na tomada de decisão do produtor do que a possibilidade de obter lucrosmaiores com a cana-de-açúcar.
Fonte: Embrapa